A Alimentação Como Cultura
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A ideia de Alimentação facilmente se associa à de Natureza, mas esta ligação é ambígua e fundamentalmente imprópria. De facto, na experiência humana os valores estruturantes do sistema alimentar não se definem em termos de naturalidade, mas antes como resultado e representação de processos culturais que compreendem a domesticação, a transformação, a reinterpretação da Natureza. Médicos e filósofos antigos, a começar por Hipócrates, definiram a alimentação como «res non naturalis», incluindo‑a entre os factores da vida que não fazem parte da ordem natural, mas sim da artificial das coisas. O mesmo é dizer, da cultura que o próprio homem produz e administra.
Esta conotação acompanha a alimentação durante todo o percurso que a leva à boca do homem. A alimentação é cultura quando se produz porque o homem não utiliza apenas aquilo que encontra na natureza (como fazem todas as outras espécies animais, mas quer criar o seu próprio alimento, pondo a actividade de produção acima da de predador. A alimentação é cultura quando se prepara porque, obtidos os produtos de base da sua alimentação, o homem transforma-os pelo uso do fogo e de uma elaborada tecnologia representada pelas práticas de cozinha. A alimentação é cultura quando se consome porque o homem, mesmo podendo comer de tudo, ou talvez por isso mesmo, na realidade não come tudo mas escolhe a sua própria alimentação recorrendo a critérios ligados quer à dimensão económica e nutricional do gesto quer aos valores simbólicos de que se reveste a própria comida. Através destes percursos, a alimentação apresenta-se como elemento decisivo da identidade humana e como um dos instrumentos mais eficazes para a comunicar.